quinta-feira, 5 de julho de 2012

O MENINO E O BARCO (histórias de Paola)

Por volta das quatro da tarde, preparava-se um temporal inquietante.
Paola não se continha em apenas ver da janela já embaçada, a escuridão que se aproximava.
Um frenesi acontecia sempre que chovia, tanto em sua mente como nas enormes árvores da floresta em frente ao seu quarto do segundo andar, de sua casa estilo medieval, com abóbodas enormes e algumas pequenas torres  que circulavam seu quarto.
Desceu a escada correndo, e os 24 degraus pareciam deslizar sobre seus pés, que por vezes clareavam a casa já escura e cheias de sombras, com enormes relâmpagos.
Abriu a porta como se para um convidado, ou melhor , uma convidada...a tempestade.
As árvores enormes iam para o norte e para o sul com os ventos.
Notou estar descalça, e era melhor assim.
Fechou silenciosamente a porta e o mundo se abriu para ela, como um convite.
Não evitava pisar nas pedras arredondadas que faziam caminho até a porta de sua casa, e notou já estar começando os primeiros pingos, quando também o cheiro de terra molhada começou a entrar em seu ser, arrepiando a pele e os seios ainda jovens.
Frente a sua casa havia uma enorme floresta, que a chamava com o rugido das árvores e a força do vento.
Correndo como quem abraça uma paixão, entrou na floresta densa, que clareava com os raios, e quase em transe ia ao encontro de uma imaginação de estar sendo esperada na clareira que havia no meio quando escutou, em meio à chuva que já molhava o solo, uma voz de menino que parecia pronunciar seu nome, ficou surpresa pois pensava estar sozinha e a voz de menino parecia pedir ajuda, parou para ter certeza de quem estaria estragando seu passeio solitário.
Logo após a clareira, passando as pedras estava o rio que lembrava ter amarrado seu pequeno barco de passeio, ainda lhe ocorreu se os remos estariam seguros dentro do barco ou estariam soltos podendo se perderem com o balançar das águas.Notara então que a voz vinha exatamente de lá, do barco.
De simples passeio, virou busca a tarde que agora, recebia uma chuva temerosa.
Ao aproximar das pedras já podia ver o barco já entrando nas águas, solto e para sua surpresa, com um menino dentro, que a fitava intensamente.Desceu com cuidado pois estava descalça e as pedras com a chuva eram escorregadia
Notara que o menino não pronunciava mais seu nome, apenas a fitava com firmeza no vai e vem das águas agora mais turvas num sobe e desce arriscado, e pensou de como não ter que entrar nas águas, pois o barco já estava a uns cinco metros aguas a dentro.
Chegando a beira não pensou e entrou nas águas frias, seus cabelos cor de mel agora eram um emaranhado flutuando ao seu lado, e o menino apenas a fitava.
Pode então colocar a mão no barco notando que os remos estavam boiando ao lado do barco e percebeu o menino olhando para ela sem estender a mão, como se assustado, e notara estar sem camisa, enrugado pelo frio da chuva.
Um remo ficou solto, e Paola subiu no barco sozinha com esforço enquanto o menino a fitava de maneira impactante.
Teria ele uns 7 ou 8 anos, trajava uma calca branca de linho apenas e sem camisa e seus olhos azuis chamaram sua atenção, e recostando sobre o banco de madeira do barco perguntou:
-Como viestes parar aqui?
O menino não respondeu, apenas a fitava intensamente, e levantando a mão num exato momento de um raio com um estrondo enorme que fez com que Paola se abaixasse com o susto, simplesmente desapareceu, estava ela agora sozinha e com apenas um remo, logo imaginou que o menino havia caído de volta nas águas turvas.Entrou em pânico, olhando ao redor do barco que já notara ter água dentro com a chuvarada, e nada do menino.
Remou algumas vezes com dificuldade pois só havia um remo, então decidiu voltar à margem, achando o segundo remo logo em seguida...
Ao retomar segurança na margem, recuperando o fôlego pensou logo em pedir ajuda, mas um cansaço intenso fez com que sentasse para respirar melhor enquanto a chuva parecia enfurecida, os galhos das árvores atrás de onde estava fazia um ruído assustador, tentou levantar-se mas recebeu um grande impacto que a fez cair ao lado da margem.
Perdendo os sentidos caiu, entrou em transe e algo que parecia real, transformou-se num sonho, aonde estava o menino dentro do barco.
Ele estava sem a camisa e de calças brancas, arremangadas até os joelhos, parecia uma grande festa em volta do lago, e ao notar as roupas, era de anos atrás, devido aos trajes e carros antigo, notou que o menino se dirigia para o barco, ninguém havia notado, tentou gritar para avisar os demais, mas sua voz não saia, apenas podia observar a cena....
O menino ao entrar no barco balançou de um lado e o mesmo caía na água, ninguém notou até que seus gritos fez todos correrem para a margem do rio.Já era tarde demais, o menino de olhos azuis estava morto.
Mesmo no sonho, pode ver no fundo do por do sol o olhar azulado com o brilho de lágrimas por seu rosto tão jovem.
A chuva já parecia ter acalmado um pouco, quando Paola abriu os olhos, todo encharcado com a água da chuva, sentou olhou para os lados, ainda a procura de um menino, que não existia mais naquele cenário.
Entendeu ter passado uma experiência que havia mexido muito com seus sentimentos, que faziam as lágrimas se misturarem com os pingos da chuva.
Nada mais restava, senão olhar o barco ali parado no mesmo lugar, apenas com uma lembrança de um passado revelador.
E para Paola, era uma experiência inesquecível, pois ainda parecia sentir-se observada por um par de olhos azuis quando retomava o caminho para sua casa, e podia ver em cada poça d'agua, uma sombra sob sua cabeça, que parecia ser de um menino de aproximadamente 8 anos, de olhos azuis....





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