sexta-feira, 31 de outubro de 2014

UM CÍRCULO E UMA VOZ - Histórias de Paola -



O sol batia forte naquela tarde, as tarefas do meio dia estavam acabadas.

A tarde parecia infinita, mas com uma convidativa brisa quente que balançavam os galhos dos pinheiros.

Enrolou os cabelos cor de mel num lenço tipo indiano, pôs os pés descalços na grama, sentiu que nesse momento o vento quente a chamava para as areias perto do riacho.

Entrou na estrada sozinha, podia ver seus cabelos entre o lenço formar uma sombra dançante na sua frente, e era um vento inquieto.

Enquanto caminhava, imaginava o que poderia reger esses impulsos, de andar sozinha, pensar e concluir por si mesma, suas inquietações.

Quanto mais caminhava, mais aumentava a velocidade do passeio, até estar correndo como se soubesse de suas respostas paradas à sua espera, ali na beira do lago.

Então parecia ser ali, parou, olhou para os lados, e segura de sua solidão, tirou o lenço dos cabelos, pôs na grama e sentou em cima, logo após estava deitada sobre ele, olhando as nuvens formando estranhas figuras.

O vento aumentava. Seus braços ali na grama, em frente ao riacho abriram-se como crucifixo. Esticada como numa cama confortável, sentiu-se aquecida pelo vento sul, que precedia uma chuva para os próximos dias.Ao fechar os olhos, sentiu-se envolvida por uma ideia que aquecia suas orelhas pequenas.

Quem ou o que comanda tudo? Essa frase era sua inquietação.

Sentiu-se girando para a esquerda, como numa roda, mas apertou os olhos para não perder esse momento e não abri-los para a realidade, e talvez notar que não rodava a não ser sua mente.

Sentia-se rodando mais rápido, enquanto pensava se o UM de tudo, está em todos os lugares ou o TODO de cada um é o que realmente existe.

Por um momento sentiu-se parar de girar, mas evitava abrir os olhos, parou como se levitasse.

Sentia que o lenço escorregava para baixo do seu corpo, como se algo o puxasse, deixou acontecer....

Ouvia as arvores começarem a balançar de novo.

Em sua mente, antes cheias de perguntas e dúvidas sobre o Universo, abriu-se uma certeza...estava ouvindo pausadamente uma voz, doce e feminina, que de tão real, pararam seus pensamentos.

Ouviu tão claro que poderia até escrever as palavras que em sua mente se redigia, pausadamente:


"Uma só realidade, uma só natureza circula em todas as naturezas.

Uma só realidade compreende todas as coisas, e contém dentro de si mesma, todas as realidades.

Como a lua única, que reflete em todo lençol d'água, e todas as poças d'água, parecem possuir sua própria lua.

O caminho perfeito não conhece dificuldades.

Só se recusa a ter preferências.

Somente quando libertado do amor e do ódio se revela plenamente, e sem disfarces.

Uma diferença de um décimo de polegada, e o céu e a terra estão separados.

Se você quiser vê-lo diante de seus olhos, não tenha pensamentos fixos, nem a favor nem contra.

Um em todos, todos em um.........um em todos, todos em um."


Um grande sopro quente fez com que Paola acordasse, como de um sonho, olhou em torno de si, ainda estava na mesma posição, deitada pernas esticadas e braços abertos, como crucifixo.Sentou-se, pôs as mãos em torno dos joelhos, e notou que o lenço que estava esticado na grama quando deitara em cima, estava todo enroscado embaixo do seu corpo, como se girasse enquanto estava deitada.

Um em todos, todos em um.....repetiu essa ideia, lembrando nitidamente do que tinha "ouvido"

Levantou-se, amarrou de novo seus cabelos cor de mel, e satisfeita, como se tivesse ouvido uma aula, entrou na estrada novamente em retorno à sua casa, agora sem pressa.

Ao levantar-se notou estar dentro de um círculo que contornava a grama misturado com a areia, aonde estava deitada.

Notou também que passaram-se horas, pois o por do sol já anunciava-se com o vento quente que a noite estava próxima.

Pisou então fora do círculo riscado na areia em torno do pequeno gramado aonde estava deitada, os pés no chão quente tomaram rumo de sua casa novamente, enquanto o vento quente balançava seus cabelos cor de mel, enrolado no lenço, que parecia ter sido enrolado, como se tivesse girado na grama, com seu corpo, enquanto meditava...."....um em todos, todos em um......"

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